Visão a longo prazo e a armadilha dos resultados rápidos
Como aliar respostas rápidas a uma visão de longo prazo? Esse é um desafio que empresas em todo o mundo enfrentam frente à necessidade de implementar medidas de austeridade para garantir a sobrevivência e a resiliência em momentos de incerteza econômica.
O pós-pandemia trouxe consigo não apenas ciclos econômicos mais restritos, mas também uma acentuada aversão ao risco. Os negócios estão mais cautelosos ao investir em novos projetos e expansões, preferindo uma abordagem conservadora para preservar recursos. A busca por eficiência se torna, portanto, crucial neste momento.
Sumário
Viciados em quick wins
Os “Quick Wins” ou “Ganhos Rápidos” são intervenções ou mudanças que podem ser implementadas de forma rápida e eficiente, resultando em melhorias tangíveis e imediatas em um projeto, processo ou operação. Essas conquistas são geralmente de curto prazo e visam fornecer benefícios instantâneos e visíveis.
No contexto do agilismo, embasado por uma abordagem iterativa e incremental para o desenvolvimento de software, os “Quick Wins” desempenham um papel crucial:
- Demonstração de valor: os “Quick Wins” ajudam a estabelecer confiança e a demonstrar rapidamente o valor da abordagem ágil. Isso é essencial, especialmente no início de um projeto ou na adoção de práticas ágeis
- Feedback imediato: ao implementar ganhos rápidos, as equipes ágeis podem obter feedback imediato sobre suas práticas e ajustar sua abordagem conforme necessário. Isso é consistente com o princípio ágil de responder a mudanças ao invés de que seguir um plano rígido.
- Engajamento da equipe: conquistas rápidas e visíveis podem motivar e envolver a equipe, criando um ambiente positivo que promove a colaboração e a busca contínua por melhorias.
- Experimentação: os “Quick Wins” também podem ser usados para validar hipóteses e abordagens mais amplas. Eles funcionam como testes rápidos para confirmar se uma ideia ou prática é eficaz antes de ser aplicada em escala.
Pressão por resultados imediatos
Na busca por vantagem competitiva, as empresas são pressionadas a entregar resultados imediatos. E essa expectativa exige uma resposta ágil e eficaz. Isso, por sua vez, coloca as equipes de liderança em uma encruzilhada difícil: a prioridade por resultados imediatos é realmente benéfica para o negócio a longo prazo?
É fácil ficar preso na rotina de tomar decisões baseadas em rápido retorno, mas isso pode levar a uma falta de planejamento e estratégia a longo prazo. Sem um plano claro para o futuro, é difícil manter o sucesso a longo prazo.
Suponhamos, por exemplo, que uma organização esteja enfrentando uma pressão significativa para entregar rapidamente um novo aplicativo com o objetivo de atender a uma demanda imediata do mercado. Optando por uma abordagem “low code”, a equipe pode criar rapidamente a funcionalidade necessária e realizar a entrega em um prazo mais reduzido. No entanto, a falta de atenção aos princípios de design de software e à escolha da tecnologia correta em um primeiro momento pode acarretar em problemas ao longo do tempo, como limitação na integração com outros sistemas da empresa, expansão na base de usuários, oferta de outras funcionalidades, aumento de custo cumulativo, entre outros.
É claro que uma estratégia low code pode sim ser benéfica a longo prazo. Mas, neste cenário, a solução encontrada para garantir uma quick win não se alinhou à visão estratégica e às metas de futuro da organização, causando problemas para o negócio.
A importância da visão a longo prazo
Para garantir o sucesso contínuo de uma empresa, é preciso ter uma estratégia clara a longo prazo. Isso envolve pensar além dos resultados imediatos e considerar como as decisões tomadas hoje afetarão a empresa no futuro. Assim, as organizações podem aproveitar o melhor dos dois mundos, promovendo inovação rápida sem comprometer a sustentabilidade e o crescimento a longo prazo.
Em pesquisa, a McKinsey & Company apontou que empresas que adotam uma abordagem equilibrada entre estratégias de curto e longo prazo tendem a ter um desempenho melhor a longo prazo do que aquelas que se concentram exclusivamente em quick wins.
O artigo também destaca que uma visão de longo prazo não é apenas uma aspiração, mas uma ferramenta prática durante o processo de implementação. Ao adotar uma abordagem estratégica, as empresas podem antecipar desafios potenciais, promover a adaptação contínua e alinhar suas transformações com os objetivos mais amplos.
Boas práticas para visão a longo prazo
Para isso, separamos algumas boas práticas que as empresas devem adotar para essa visão a longo prazo:
- Ciclos de planejamento balanceados: incorpore ciclos de planejamento a médio e longo prazo dentro da estrutura ágil. Isso permite que a organização mantenha um equilíbrio entre metas imediatas e objetivos estratégicos de longo prazo.
- Cultura de inovação contínua: promova uma cultura de inovação que não se limite apenas a melhorias incrementais, mas que também reserve espaço para iniciativas mais disruptivas e de longo prazo.
- Avaliação de impacto a longo prazo: implemente métricas que avaliem não apenas o sucesso imediato das entregas, mas também seu impacto ao longo do tempo. Isso ajuda a evitar a armadilha de otimizar para o curto prazo em detrimento do futuro.
- Flexibilidade e adaptabilidade: manter a agilidade na capacidade de adaptação é crucial. Uma estratégia a longo prazo não deve ser inflexível, mas sim capaz de evoluir em resposta às mudanças nas condições do mercado.
Encontrando o equilíbrio certo
Como tudo no agilismo, não existe uma fórmula perfeita. O que nos cabe enquanto times ágeis é buscar o equilíbrio certo, entendendo que as ações de curto prazo adotadas devem ser passos para alcançar a visão de longo prazo. E, é claro, realizar as priorizações tendo em mente o impacto now-soon-later das ações.
As métricas de produto atuam como faróis indicativos do desempenho e do valor entregue. Ou seja, ao analisar dados concretos sobre a utilização do produto, a satisfação do usuário e a eficácia das funcionalidades implementadas, as equipes obtêm insights cruciais. Esse enfoque cirúrgico, centrado em dados, permite que as equipes tomem decisões fundamentadas, priorizando esforços nas áreas que mais contribuem para os objetivos de longo prazo, resultando em uma maior eficiência e na maximização do valor entregue.
E os indicadores operacionais do time andam em paralelo: não se pode esperar uma execução impecável sem que a operação esteja também impecável! Na dti, por exemplo, conduzimos uma avaliação mensal de diversos indicadores que revelam a maturidade digital da equipe, uma experiência que você pode explorar diretamente em nosso site. Essa ferramenta também identifica as áreas operacionais em que o time pode estar menos sólido, permitindo ajustes estratégicos.
É importante relembrar que um plano de longo prazo não sugere rigidez. Ao contrário, ele serve como guia para alcançar o resultado desejado, proporcionando a flexibilidade e adaptabilidade necessárias para recalibrar a rota durante a jornada. É assim que podemos, de fato, atingir a linha de chegada com sucesso.
Fontes:
– McKinsey & Company: https://www.mckinsey.com/capabilities/implementation/our-insights/how-to-implement-transformations-for-long-term-impact
– Harvard Business Review – “The Innovator’s DNA”: https://hbr.org/2011/12/the-innovators-dna
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